JUSTIÇA DOS EUA ELEVA PARA CINCO O NÚMERO DE ACUSADOS NO CASO DE FRAUDE MOÇAMBICANA.
JUSTIÇA DOS EUA
ELEVA PARA CINCO O NÚMERO DE ACUSADOS NO CASO DE FRAUDE MOÇAMBICANA.
A Procuradoria da Justiça em Nova Iorque subiu
para cinco o número de acusados no esquema de fraude envolvendo empréstimos a
empresas públicas moçambicanas realizados à margem das contas, no valor de mais
de 2 mil milhões de dólares.
Aos nomes já
conhecidos de Manuel Chang, ex-ministro moçambicano das Finanças, e de três
antigos banqueiros que intermediaram os empréstimos – Andrew Pearse, um antigo
diretor do banco Credit Suisse; Surjan Singh, diretor no Credit Suisse Global
Financing Group, e Detelina Subeva, vi-presidente deste grupo — a acusação dos
procuradores nova-iorquinos estendeu-se esta quinta-feira a Jean Boustani, um
negociador alegadamente envolvido no esquema, avançou a Associated Press.
Manuel Chang foi
detido na África do Sul no dia 29 de dezembro, quando tentava embarcar para o
Dubai, na sequência de um pedido de extradição das autoridades
norte-americanas. O seu advogado indicou esta quinta-feira que o ex-governante
moçambicano vai contestar o pedido de extradição para os Estados Unidos.
Andrew Pearse,
Surjan Singh e Detelina Subeva foram detidos em Londres esta quinta-feira,
também a pedido da procuradoria nova-iorquina, foram entretanto libertados sob
caução e aguardam a extradição.
Jean Boustani
foi detido pelas autoridades norte-americanas no aeroporto John F. Kennedy na
passada quarta-feira.
De acordo com o
despacho de acusação da Justiça norte-americana divulgado esta quinta-feira
pelo tribunal federal em Brooklyn foram investigadas três empresas criadas para
levar a cabo operações de “fiscalização marítima”, apoio à pesca do atum e
reparação naval.
O esquema passou
pela concessão de empréstimos a estas três empresas no valor de mais de 2 mil
milhões de dólares (1.760 milhões de euros), garantidos pelo Governo
moçambicano, entre 2013 e 2016.
O dinheiro
“deveria ter sido utilizado exclusivamente em projetos marítimos”, lê-se no
despacho de acusação. “Na realidade”, acrescenta o texto, “os acusados criaram
o projeto marítimo como um embuste para enriquecimento próprio e para desviarem
intencionalmente partes dos empréstimos para pagamento de comissões a si mesmos
e de subornos na ordem de, pelo menos, 200 milhões de dólares a representantes
do Governo moçambicano e outros”.
A comunicação
social moçambicana e estrangeira específica que Manuel Chang, que é atualmente
deputado da Assembleia da República, é acusado de conspiração para fraude
eletrónica, conspiração para fraude com valores mobiliários e lavagem de
dinheiro.
Manuel Chang foi
ministro das Finanças de Moçambique durante o Governo do Presidente Armando
Guebuza, entre fevereiro de 2005 e dezembro de 2014.
Então com o
pelouro das Finanças, foi Manuel Chang que avalizou dívidas de mais de 2.000
milhões de dólares secretamente contraídas a favor da Ematum, da Proindicus e
da MAM, as empresas públicas referidas na acusação norte-americana, ligadas à
segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014.
A mobilização
dos empréstimos foi organizada pelos bancos Credit Suisse e VTB. O Credit
Suisse fez já saber que foi vítima do seu staff e acrescentou que está
desenvolver esforços no sentido de aumentar a transparência em operações de
financiamento que envolvam governos de mercados emergentes, de acordo com a
agência Bloomberg.
Uma auditoria
internacional deu conta da falta de justificativos de mais de 500 milhões de
dólares (440 milhões de euros) dos referidos empréstimos, sobrefaturação no
fornecimento de bens e inviabilidade financeira das empresas beneficiárias do
dinheiro.
Os procuradores
nova-iorquinos referiram a existência de emails que ilustram a forma como foram
negociados alguns subornos.
Jean Boustani,
um negociador no Privinvest Group, uma holding sedeada no Abu Dabi, detentora
de um estaleiro naval, concordou alegadamente pagar 50 milhões de dólares (43,8
milhões de euros) em subornos e comissões a representantes do Governo
moçambicano em dezembro de 2011, e 12 milhões de dólares (10,5 milhões de
euros) a outros conspiradores na Privinvest, de acordo com a Bloomberg.
Em resposta a um
email de Boustani, que pedia um número para um suborno e comissão, um alto
dignitário moçambicano, cujo nome foi encoberto no despacho de acusação
respondeu alegadamente: “Óptimo, irmão. Fiz consultas, por favor, mete 50
milhões de galinhas. Ao número que tenhas para o teu galinheiro, acrescenta 50
milhões para a minha criação”.
De acordo com a
acusação, Boustani reencaminhou então o email internamente na Privinvest,
especificando: “50 milhões para eles e 12 milhões para [conspirador nº1 na
Prinvinvest] (5%) = total de 62 milhões à cabeça”.
Ainda segundo a
acusação, representantes da Privinvest foram acusados de “inflacionar os preços
de equipamentos e serviços” fornecidos a Moçambique, libertando assim o
dinheiro para o esquema de subornos.
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